01 dezembro 2008

Sérgio Ubirajara - A chave de Michelangelo




Nome do livro:
A chave de Michelangelo
Nome do Autor:
Sérgio Ubirajara
Gênero:
Romance
Ano de Lançamento:
2006
Editora:
Salles

Prólogo
Egito, agosto de 1927

Ao passar a mão afastando o suor que lhe cobria a face, o Dr. Albert Raidech ergueu a cabeça e seus olhos fixaram-se então na Esfinge — o colosso de pedra —que a uns trezentos metros dali contemplava-o com o mesmo olhar enigmático que por milênios inquietava a todos que se deparassem com seu majestoso semblante.
— Aqui! Eu encontrei — gritou o nativo contratado pela expedição. O Dr. Albert correu em direção ao homem que acenava freneticamente, apontando para o que parecia ser uma imensa lápide com inscrições corroídas pelo tempo obstruindo a entrada de um túmulo subterrâneo. Com instrumentos trazidos por seu assistente, o emérito professor e egiptólogo britânico limpou-a cuidadosamente. Sua face então iluminou-se ao contemplar a águia bicéfala.
Ele finalmente descobrira a tumba perdida do faraó Amenófis IV — o faraó sacerdote, o grande mago do Egito que aterrorizava o mundo antigo. A pedra foi removida, e com uma tocha, seguido pelo seu assistente Max Fuchon e pelos nativos, o Dr. Albert desceu os sessenta degraus de uma escadaria que, por milênios, ninguém havia passado. A sala mortuária era um imenso retângulo, a visão das paredes, em auto-relevo, representando batalhas antigas, esquecidas na história, logo era substituída pelo brilho ofuscante de dezenas de estátuas em tamanho natural de homens e deuses do antigo Egito.
— Professor, isto aqui é ouro! — disse Max Fuchon enquanto removia a camada de poeira que recobria a face altiva do deus Hórus — um homem com a cabeça em forma de falcão. O esplendor era extraordinário — tesouros se amontoavam para onde quer que os olhos se dirigissem.
— Onde está o sarcófago? — perguntou o egiptólogo voltando à realidade. Todos se entreolharam — sarcófago? Haviam descoberto os tesouros de um faraó e o velho senil preocupado com um sarcófago?
— Professor Albert — disse o assistente — talvez não haja sarcófago.
— Não diga bobagens, Max! Se isto é um túmulo, tem que haver então um sarcófago — disse, enquanto caminhava em direção ao fundo da tumba, alheio a dezenas de arcas repletas de ouro e jóias, que de tão abarrotadas, algumas peças haviam caído no chão, fazendo o velho professor, por mais cuidado que tivesse, caminhar sobre pérolas e colares.
— Meu Deus, olhe essas inscrições, Max!
O jovem assistente relutou em desviar sua atenção dos enormes vasos de alabastro que em sua parte superior apresentavam jóias recobertas de diamantes.
— Max, olhe isso aqui — continuou o professor. Os olhos do assistente encontraram então as paredes apontadas pelo professor.
— O que tem de especial esses desenhos, professor? — perguntou enquanto sua atenção voltava para os vasos de alabastro.
— As pragas do Egito... — continuou o velho olhando fixamente para os desenhos. Mas quem as produz usa as mesmas vestes que um faraó! Max, isso é surpreendente!
A atenção do assistente voltara-se para o egiptólogo.
— Como assim, professor? As pragas do Egito não foram, segundo a Bíblia, enviadas por Moisés?
— Sim, isto mesmo, mas aqui as inscrições mostram o faraó mandando as mesmas pragas enviadas por Moisés. Isto comprova...
— Professor, olha aqui uma alavanca!
Parte das inscrições que recobriam a parede havia desmoronado pela ação do tempo, deixando parcialmente visível uma alavanca, outrora oculta.
— O sarcófago deve estar aqui em algum lugar atrás destas inscrições — ajude-me com a alavanca, Max!
— Está emperrada, Professor!
Uma parte da parede recuou alguns centímetros.
— Veja, a parede se moveu!
Com o esforço de Max e dos nativos, ombreando a parede, esta cedeu vagarosamente, deixando visível uma câmara secreta.
— Céus! O ataúde de Amenófis IV — exclamou fascinado o ancião.
— Totalmente de ouro, Professor!
A câmara secreta era um semicírculo, cujas paredes cobertas de inscrições desconhecidas, possuía em seu centro um sarcófago dourado ostentando em sua parte superior uma águia bicéfala de lápis-lazúli.
— Olhe isso aqui, Max — disse o Professor, indicando o desenho em relevo sobre o sarcófago.
— É estranho, professor, nunca vi uma representação egípcia com um falcão de duas cabeças!
— Não, Max... — o Professor estava visivelmente excitado — não é um falcão...

* * *

— O que o senhor está dizendo? — perguntou surpreso o assistente.
— Isto aqui não é um falcão, é uma águia bicéfala, ou melhor, é uma fênix, um tipo muito especial de águia, segundo a mitologia...
— Aquela que renasce das cinzas!
— Isso mesmo, Max, agora também não é um símbolo egípcio, é sumério.
— Sumério?... Mas o que um símbolo sumério estaria fazendo em um sarcófago egípcio?
— Max — a voz do velho egiptólogo saía com dificuldade, e tomado pela emoção ele continuou: — talvez estejamos nos deparando ao abrir este sarcófago com um dos mais terríveis segredos já revelados ao homem, que acreditávamos estivesse perdido na noite dos tempos. Eu tenho medo, Max, que a humanidade não esteja preparada para ter acesso ao que possa estar aí dentro!
— Professor — os olhos do jovem assistente brilhavam — eu estou mais curioso do que assustado. O que pode haver de tão terrível assim, para assustá-lo dentro de um sarcófago de mais de quatro mil anos?
— Meu jovem — disse o ancião — você já deve ter ouvido falar do incêndio da famosa biblioteca de Alexandria, não?
— Sim, foi uma estupidez praticada por um fanático califa árabe que achava que estaria livrando o mundo do mal, destruindo todo o conhecimento do mundo antigo guardado naquela biblioteca.
— Nem tudo foi destruído, meu jovem, nem tudo. O incêndio da famosa biblioteca foi em 646 de nossa era. Júlio César, quando seduzido pelos encantos de Cleópatra, esteve no Egito em 48 a.C. retirando algumas peças da biblioteca de Alexandria e levando consigo para Roma. A grande maioria do acervo encontra-se nos arquivos secretos do Vaticano, herdeiro natural do Império Romano, porém, durante o ataque a Roma, ocorrido em 1527, por tropas alemãs, sob o comando de Carlos V, algumas dessas obras acabaram sendo vendidas a inescrupulosos comerciantes venezianos, indo por fim parar no Museu de Londres — obras perturbadoras, cujo acesso só é permitido a um seleto grupo de pesquisadores ligados à Coroa Britânica.
— O senhor é um deles? — perguntou fascinado o jovem.
— Sim, Max, eu sou um dos que tiveram acesso a estas obras.
— Mas o que é que elas dizem, professor? O jovem não conseguia se conter.
— Dentre elas há um pergaminho muito antigo levado para Alexandria por Alexandre o Grande, quando da conquista da Judéia, provavelmente tomado de antigas seitas secretas judaicas. Pois bem, esse pergaminho nos revela a existência de uma cidade muito, mas muito antiga.
— Dos primórdios da civilização?
— Sim, mas não das civilizações que nós conhecemos, originárias do crescente fértil e do delta do Nilo. Uma civilização ainda mais antiga, até mesmo pré-diluviana, a cidade de Lagahs, segundo o pergaminho a cidade do pecado.
— Cidade do pecado? Como assim, professor?
— Esta cidade, segundo o pergaminho, seria a própria causa do dilúvio. Provavelmente você jamais encontrará isso na enciclopédia britânica, pois não há mais do que dez pessoas no mundo que sabem alguma coisa sobre essa cidade, mas deixe-me continuar: — segundo o pergaminho, e aqui vamos encontrar algumas coisas em paralelo com a Bíblia, os filhos de Deus (anjos) foram seduzidos pelas filhas dos homens (mulheres) e dessa união nasceram homens extremamente poderosos que oprimiam e escravizavam os povos de então. Seu poder não era decorrente da enorme força física, mas dos conhecimentos secretos revelados por seus magníficos pais. Tal era a depravação desses homens, que fundaram a cidade de Lagahs, e a partir dela subjugaram todo o mundo antigo. Com isso Deus castigou-os com o dilúvio para aniquilar a maldade na Terra. Sobrevivendo apenas Noé e sua família para repovoá-la, relata-nos porém o pergaminho que Ninrode, neto de Cão, um dos filhos de Noé, ao fazer escavações para fundar uma nova cidade entre os rios Tigre e Eufrates, local onde ficava a antiga cidade de Lagahs, encontrou um livro — não um livro qualquer, mas um livro de ouro — o Livro de Ouro de Lagahs, como ficou conhecido. De posse desse livro sua mente teve acesso aos mistérios ocultos da magia, de tal forma que Ninrode acabou expulso da cidade que fundara, em razão da maldade que o dominou, refugiando-se então no Egito. Protegido pelo faraó, deu origem a uma dinastia de magos, cujo poder assombrava a todos.
— Janes e Jambres, os magos do Egito que, sob as ordens do faraó resistiram a Moisés!
— Sim, Max. Esses magos foram seus descendentes, até que acumulando tantos poderes místicos e fortalecendo-se de maneira espantosa, eles acabaram destronando e matando o próprio faraó, usurpando-lhe o trono do Egito, que acabou sendo ocupado por um dos mais destacados magos da Dinastia de Ninrode.
— Amenófis IV! — o jovem estava em êxtase.
— Isto mesmo, Max — sorriu o velho.
— E o livro? — os olhos de ambos pousaram sobre o sarcófago.

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